top of page

A Redescoberta do Trauma: Quando o Passado Não Passa

Por que algumas dores parecem se repetir, mesmo depois de anos? O que faz com que certas pessoas permaneçam presas a um passado que já passou, mas nunca foi embora?


Este texto é um convite para compreendermos o trauma como muito mais do que uma lembrança difícil — mas como uma experiência que se imprime no corpo, reorganiza o cérebro e transforma radicalmente a forma de estar no mundo.


Trauma não é apenas memória. É aprisionamento.


Algumas experiências são tão devastadoras que não conseguimos simplesmente “superá-las”. Para muitos sobreviventes, especialmente veteranos de guerra, sobreviventes de abuso ou violência, o trauma não vive apenas na mente — ele habita o corpo, molda a percepção e aprisiona a espontaneidade.


O psiquiatra Abram Kardiner, ainda nos anos 1940, já reconhecia isso. Observando soldados traumatizados, descreveu o que hoje chamamos de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) como uma “fisioneurose”: uma perturbação não apenas psíquica, mas corporal.

“Nem todo trauma está na cabeça. Ele está no corpo. Ele vive nos reflexos, na musculatura, na pele, na respiração, nos batimentos.”
as memórias do trauma ficam guardadas no corpo
as memórias do trauma ficam guardadas no corpo

A vergonha silenciosa que nos faz adoecer


Para quem passou por experiências traumáticas, muitas vezes a dor mais insuportável não é o que aconteceu, mas a forma como isso reverberou dentro de si. O trauma frequentemente gera vergonha — de ter sentido medo, de não ter reagido, de ter se calado, de ter sobrevivido.


Essa vergonha é ainda mais cruel quando o trauma envolve relações próximas, como em casos de abuso infantil. A criança, para sobreviver, muitas vezes precisa manter vínculos com quem a feriu, o que confunde sua percepção de amor, cuidado, dor e terror.

“Será que eu consenti? Será que eu fiz algo para merecer?” Essas perguntas, que ecoam em muitas vítimas, não falam da verdade dos fatos, mas da distorção emocional que o trauma impõe.

Por que é tão difícil falar sobre o trauma?


É doloroso assistir à dor dos outros — e ainda mais doloroso reviver a própria. Por isso, muitas pessoas fogem das lembranças com álcool, drogas, compulsões ou dissociação. O trauma, mesmo quando parece distante no tempo, continua a ser vivido no presente — de forma invisível, mas real.


O mundo visto pelos olhos de quem foi ferido


Um dos aspectos mais profundos do trauma é que ele altera a percepção.O mundo deixa de ser seguro.Uma pessoa comum na rua pode parecer uma ameaça.Um professor rígido pode despertar pânico.Uma festa pode soar como um campo de batalha.


Em testes como o Rorschach, que mostram apenas manchas de tinta, percebemos isso com clareza: pessoas traumatizadas tendem a projetar significados ameaçadores ou confusos, mesmo em estímulos neutros. É como se seu sistema interno estivesse sempre em alerta — vendo perigo onde há apenas vida.


O trauma como prisão — e também como sentido


Muitas pessoas vivem décadas presas ao passado, não por escolha, mas porque esse passado foi a última coisa que realmente as fez sentir algo.

“Só me sinto vivo quando revivo o trauma.”Essa frase, dita por veteranos de guerra, ecoa também em muitas outras vítimas de violência e abandono.

O trauma rouba o presente, mas dá uma ilusão de sentido. É como um campo de gravidade que mantém a pessoa girando ao redor da dor original, sem conseguir se libertar.


Existe saída?


Sim, existe. E ela começa com um olhar que reconhece que:

  • O trauma não é frescura, nem fraqueza.

  • Ele não é apenas psicológico, mas também neurológico e somático.

  • Ele pode ser cuidado, com apoio certo, tempo, presença e corpo.

Curar o trauma é reconstruir a confiança no mundo e em si mesmo. É entender que o passado doeu, mas que é possível viver no presente com integridade e liberdade.


Se você se reconhece em alguma parte deste texto...


...saiba que não está sozinha/o. A dor que você sente tem nome, tem causa — e pode ser acolhida com respeito e cuidado.

✨ A psicoterapia informada pelo trauma oferece caminhos seguros e respeitosos para esse reencontro com a vida.

Entre em contato para uma conversa inicial sem compromisso. Vamos, juntas/os, criar um espaço onde a dor possa se transformar em presença, e a memória deixe de ser prisão.


Comentários


Vamos conversar

Email: psi.camila.amaral@gmail.com 

Phone: +353 83 3437993

Receba dicas semanais

© 2025 by Camila Amaral.  All rights reserved.

  • Instagram
  • Spotify
  • LinkedIn
  • Whatsapp
bottom of page