O Que Queremos Mais do Que Tudo?
- CAMILA AMARAL

- 8 de jun.
- 3 min de leitura
O que, afinal, os seres humanos mais desejam?
Essa resposta, claro, varia. Alguns anseiam por pertencimento. Outros, por conexão. Há quem diga que a vida só faz sentido quando é vivida com propósito. Mas talvez haja algo ainda mais essencial — algo que atravessa todos esses desejos.
E se, no fundo, o que mais queremos... é simplesmente nos sentir vivos?
Vivemos muitas vezes dentro de moldes impostos — por famílias, culturas, instituições. Seguimos regras, expectativas, rotinas. Fazemos o que se espera de nós. E, nesse processo, vamos nos afastando de nós mesmos. Sobrevivemos — mas não vivemos de fato.Temos o corpo em movimento, o ar entrando pelos pulmões, o coração batendo... e, mesmo assim, por dentro, algo parece adormecido. Sentimo-nos vazios. Desconectados. Como se algo essencial estivesse faltando.
A Busca por Sentir-se Vivo
E se reconhecêssemos esse vazio? Esse torpor que muitas vezes se instala silenciosamente? E se olhássemos com mais ternura para as tentativas, às vezes confusas ou impulsivas, que fazemos para escapar dele?
No consultório, vejo pessoas buscando desesperadamente uma faísca. Repetem relações que ferem, recorrem a substâncias, negligenciam o corpo, gastam além do que podem. Às vezes, manifestam isso em crises existenciais: uma mudança de carreira repentina, um relacionamento inesperado, uma separação abrupta. Em outros momentos, é algo mais silencioso — uma tristeza sem nome, uma inquietação que não passa.
Aprendi, inclusive pela minha própria experiência, que esses movimentos não são apenas descontrole. Muitas vezes, são gritos por vida. Um chamado interior dizendo: “Isso aqui não está me bastando”.
E Se Isso For Sobre Sobrevivência?
E se esses comportamentos — que julgamos com tanta facilidade — forem, na verdade, tentativas de sobrevivência psíquica?E se, mais do que qualquer outra coisa, estivermos tentando nos sentir vivos?
Talvez essa busca não precise ser feita por caminhos que nos machucam. Talvez possamos aprender a reconhecer esse chamado e a respondê-lo de maneiras mais saudáveis, mais conscientes, mais alinhadas com quem somos.
Redescobrindo a Vivacidade em Nós
Sentir-se vivo pode estar em coisas simples, mas profundas:
Aprender algo novo.
Criar algo com as mãos.
Andar descalço na terra.
Respirar fundo diante do mar.
Se emocionar com uma música.
Conversar com alguém que nos escuta de verdade.
Pode estar em sair da zona de conforto com gentileza. Em permitir-se errar, explorar, recomeçar. Em buscar experiências que nos toquem a alma.
A Importância dos Vínculos Verdadeiros
Nada nos desperta mais do que o encontro humano genuíno. Relações que nos acolhem como somos — sem máscaras, sem exigências de performance. Relações onde somos vistos, ouvidos, reconhecidos.
Quando criamos laços com espaço para autenticidade e vulnerabilidade, algo em nós relaxa. E, curiosamente, também se acende.

O Vazio Como Convite
A sensação de vazio pode não ser apenas um problema a ser resolvido. Às vezes, ela é um convite. Um chamado silencioso para voltarmos a nós mesmas/os. Para olharmos com mais verdade para o que importa. Perguntas como “O que me faz vibrar?” ou “Onde me perdi de mim?” podem abrir caminhos inesperados de reconexão.
Presença, Corpo e Cuidado
Práticas de presença — como o mindfulness — nos ensinam a estar com o que é. Sem fugir, sem lutar, sem julgar. E o autocuidado é um modo de lembrar, todos os dias, que existimos, que merecemos cuidado, que estamos aqui.
A Coragem de Viver
Viver plenamente pode ser assustador. Requer coragem. Medo e vida andam lado a lado. Mas precisamos encontrar maneiras de não deixarmos o medo nos paralisar.
A cada pequeno gesto de autenticidade, a cada passo que damos mesmo com receio, algo em nós se fortalece. E começamos a nos reconhecer. A voltar para casa.
Vulnerabilidade: O Coração da Experiência Humana
Ser vulnerável é dizer sim à vida como ela é. É deixar de controlar tudo e abrir espaço para o inesperado, o imperfeito, o verdadeiro. É nesse espaço que nascem os encontros mais significativos, as experiências mais transformadoras.
O Que Queremos Mais do Que Tudo?
Talvez o que queremos — mais do que pertencimento, conexão ou significado — seja a chance de estar inteiramente aqui, com tudo o que somos. Com nossa luz e nossa sombra. Com nossos vazios e nossos desejos. Queremos nos sentir vivos — e isso é profundamente humano.
Seguimos Juntas/os na Jornada
Cada pessoa caminha por uma estrada única de autodescoberta e reconexão. Não há fórmula. Não há pressa. Mas há um convite constante: o de viver com mais presença, mais verdade, mais coragem.
Que possamos, com gentileza, seguir buscando o que nos faz vibrar por dentro. Afinal, viver — verdadeiramente viver — talvez seja o maior ato de liberdade e amor que podemos escolher.







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